Eu cresci na aldeia. As melhores recordações da minha infância situam-se num campo da casa da minha avó paterna onde existia uma pereira, uma ameixoeira, um castanheiro, um diospireiro e, a melhor de todas, uma cerejeira. Ao redor, as videiras. De tempos a tempos cabiam lá também um batatal e um milharal. Ao fundo, uma pequena floresta de pinheiros enormes e assustadores. Lembro-me de me empoleirar na árvore das cerejas, a minha preferida. De certeza devo ter dado muitos valentes tombos.
Mas para minha vergonha - e da minha mãe, se disto soubesse - a única árvore que consigo hoje reconhecer é a videira.
Se me colocasse à frente de cada uma das árvores que referi acima teria que fazer um grande esforço para adivinhar o seu fruto. A minha ignorância sobre assuntos da terra é simplesmente indesculpável.
Por isso, mexer hoje na terra é para mim uma reconciliação. Reconciliação com os meus avós, com a minha mãe e, principalmente, com a minha infância. E nada melhor do que partir do princípio.
Além disto, semear, cuidar, esperar, ver nascer e crescer uma planta deve ser, porventura, uma das actividades mais recompensadoras para se fazer com uma criança.
Há algumas semanas eu e a minha filha reunimos os materiais de trabalho e pusemos mãos à obra. Eu queria usar plantas que fossem comestíveis. Queria dar à Gói a ideia de que as plantas não servem só para enfeitar, fazer sombra, ... mas que elas são, essencialmente, alimento. Por isso, desta vez escolhemos salsa, oregãos, coentros, cidreira e salva.
Pegámos em pequenos vasos, terra, pedaços de argila e aqui estão os resultados, três semanas depois:
A cidreira e a salva estão ainda um pouco preguiçosas.
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